Programa Corredor Tinguá-Bocaina recupera Mata Atlântica no Rio de Janeiro
Corredor Tinguá-Bocaina já protege nascentes e rios e mira 10 mil hectares restaurados até 2030.
Por Gabriel Orion
Na semana em que se celebra o Dia do Meio Ambiente, em 05 de junho, a proteção dos recursos hídricos, elemento central nas crises de biodiversidade e clima, segue avançando na Mata Atlântica fluminense.
Por meio do Programa de Restauração Florestal Corredor Tinguá-Bocaina, criado pela CEDAE em parceira com a The Nature Conservancy (TNC) Brasil e o Governo do Estado do Rio de Janeiro, dá continuidade a uma das maiores iniciativas de restauração do bioma no estado. O programa tem como meta restaurar 10 mil hectares até 2030, contribuindo diretamente para a segurança hídrica de mais de 13 milhões de pessoas abastecidas pela Bacia do Guandu, além de proteger a biodiversidade e gerar oportunidades sociais.
Diferencial da iniciativa, o programa integra ações de inclusão social por meio da ressocialização de apenados do sistema prisional, que participam ativamente das atividades produtivas — desde a coleta de sementes e produção de mudas até os plantios e monitoramento das áreas de restauração.
Atualmente, 22 apenados atuam nas frentes de restauração florestal, recebendo capacitação técnica, salário e benefícios que somaram R$ 193.600,00 apenas entre setembro e dezembro de 2024.
“Essa integração da agenda ambiental com a social é fundamental. Estamos mostrando que é possível restaurar florestas, gerar benefícios climáticos, proteger mananciais e, ao mesmo tempo, oferecer novas oportunidades para pessoas que buscam recomeçar”, destaca Paulo Henrique Pereira Reis, gerente de responsabilidade socioambiental da CEDAE.
Avanços que impactam a biodiversidade e as bacias hidrográficas
No ano de estruturação do Programa, o relatório de progresso 2024 mostra outros resultados expressivos. Foram protegidos 4,1 quilômetros de rios e preservadas nove nascentes, fundamentais para a segurança hídrica da região. Também houve avanços no desenvolvimento de programas municipais de restauração florestal, atualmente em andamento nos municípios de Paracambi, Mendes e Piraí. Paralelamente, estão em curso ações para a criação de Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs), com levantamentos de demandas já realizados.
O programa também estabeleceu parcerias estratégicas, como a cooperação com o Exército Brasileiro para restaurar áreas localizadas em Paracambi, Seropédica e Japeri, formando conexões importantes entre fragmentos florestais.
O desafio da água é urgente
O avanço da restauração se torna ainda mais relevante frente ao diagnóstico alarmante sobre a qualidade dos rios da Mata Atlântica. Segundo levantamento da SOS Mata Atlântica, mais de 75% dos pontos monitorados apresentam água de qualidade apenas regular, comprometida pela poluição e insuficiente para o consumo sem tratamento. Além disso, o número de trechos classificados como ruins ou péssimos aumentou em 2024.
“Cuidar das florestas é, na prática, cuidar da água. As matas garantem a regulação do ciclo hidrológico, protegem nascentes e influenciam diretamente a segurança hídrica de milhões de pessoas”, reforça Adriana Kfouri, da TNC Brasil.
Próximos os: escalar e replicar o modelo
Para 2025, o Programa prevê ampliar as áreas mobilizadas para restauração, expandir a infraestrutura dos viveiros florestais da Cedae e fortalecer as parcerias institucionais, além de constituir um Conselho Gestor do Programa, que terá como missão compatibilizar, integrar e otimizar a relação das instituições com o território. A expectativa é também intensificar as capacitações, tanto para os apenados quanto para técnicos e comunidades locais, além de aprimorar as soluções de monitoramento das áreas restauradas.
O Corredor Tinguá-Bocaina se consolida como um modelo de Soluções Baseadas na Natureza (SbN), combinando restauração ecológica, desenvolvimento socioeconômico e geração de benefícios climáticos — uma resposta concreta aos desafios do presente e uma esperança renovada para o futuro.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
[ Se você gostou desse artigo, deixe um comentário. Além disso, compartilhe esse post em suas redes sociais, assim você ajuda a socializar a informação socioambiental ]